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*Patanjali sutra 1.2 chita vritti nirodha – yoga é a cessação das flutuações da consciência

O que é o Yoga?

 

Yoga é diversamente entendido como arte, ciência, exercício, doutrina, religião, como estilo de vida ou cultura. Porém, originalmente, nasceu como uma visão muito especial sobre o ser humano e seu papel na ordem das coisas, que incluía um caminho prático para o crescimento pessoal, conduzindo o ser humano à compreensão de si mesmo. Yoga, num sentido técnico, refere-se ao conjunto de valores, atitudes e técnicas espirituais que se desenvolveram na Índia, no decurso de pelo menos cinco mil anos. Deve entender-se como  um conceito genérico dos vários caminhos indianos da auto-transcendência ou de transmutação metódica da consciência.

 

Bhagavadgita*: Yogaskarmasu kausalam “Yoga é perfeição na acção”, é uma visão tão ampla como simples da prática: qualquer acto pode fazer-se como sadhana (prática contínua e constante). Entenda-se por perfeição o viver consciente. Patanjali explica o mesmo por outras palavras "Discernimento constante é o meio para destruir a ignorância" (Yogasutra, II:26). Mesmo quem julga nunca ter tido contacto com Yoga, saiba que já teve, ao realizar as suas actividades diárias como sadhana. Trata-se de qualquer viver, sempre que se está totalmente consciente, a cada momento. Já Fernando Pessoa o dizia, por  Ricardo Reis, no poema “Põe quanto é no mínimo que fazes”.

Para ser grande, sê inteiro: nada / Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive.

A palavra yoga, etimologicamente, deriva da raiz verbal yuj, que significa conjugar, juntar, jungir, e pode ter muitas conotações, tais como, união, conjunção de dois astros, ocupação, equipe, agregado...  

É um conceito normalmente interpretado como união do eu individual ao supremo de si mesmo. Embora esta noção de união faça algum sentido no contexto da tradição do vedanta, aplicando-se ás escolas antigas (pré clássicas)  e ás escolas posteriores (pós clássicas), não é característica de todas as formas de yoga.

 

Num sentido mais restrito, yoga refere-se ao sistema clássico proposto por Patanjali, compilado no séc. II a.C., que constitui um dos seis pontos de vista ou sistemas filosóficos dos vedas (sad darshan) da Índia. Nesta perspectiva entende-se yoga como “citta-vritti-nirodha” – a cessação das flutuações da consciência. O sistema clássico afirma um dualismo entre o espírito (purusha) e a matéria (prakriti), e de acordo com o comentário do rei Bhoja, yoga significa (viyoga) separação. A técnica baseada no yoga clássico é o discernimento (viveka) do yogui, este procura afastar-se, passo a passo, daquilo que percebeu que não constitui a sua natureza essencial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esquema de Alyson Hinks “Patanjali’s 8 limb’s of yoga”

 

Hatha Yoga

 

A base para o sistema de hatha yoga foi a de que, antes do praticante se dedicar às práticas mais avançadas de meditação, que eram muito populares na época devido, entre outros aspectos, à influência budista, o praticante deveria purificar primeiro o corpo.

O seu objectivo supremo é idêntico ao de outras formas autênticas de yoga – preparação para estados elevados de consciência. A tecnologia espiritual do hatha yoga gira especialmente em torno do desenvolvimento do potencial do corpo, para que este seja capaz de suportar a força e o peso da realização transcendente, o que denota uma forte influência do tantra yoga.

 

Embora mais recentemente a designação Hatha yoga tenha sido vulgarmente utilizada para referir a prática de asanas este sistema engloba um conjunto de técnicas mais abrangente, que visam criar um equilíbrio entre as diferentes actividades e processos do corpo físico e da mente, como os shatkarmas (conjunto de práticas de purificação), asanas, panayamas, mudras (gesto/atitude psico-física) e bandhas (contracções neuromusculares).

No hatha yoga Pradipika é referido que o hatha yoga e o raja yoga (clássico) devem ser vistos como complementares.

 

Segundo a análise da etimologia da palavra Hatha “Ha” representa prana (energia vital) e “Tha” representa a mente (energia mental). Assim Hatha Yoga significa a união dessas duas forças. Quando esta união ocorre o praticante desperta para a consciência superior e entra no domínio das práticas e sistemas de meditação mais avançados. O praticante vai gradualmente rejuvenescendo e serão despertadas inúmeras potencialidades em si adormecidas. “Ha” poderá referir-se também ao sol e “Tha” a lua, normalmente entende-se hatha yoga como a união dos opostos.

 

A prática continuada do yoga (sadhana) permitirá ao praticante acalmar a mente, facilitando o processo de regulação e gestão de emoções e proporciona um equilíbrio total, psico-físico-espiritual. Melhora o funcionamento do sistema respiratório, circulatório, digestivo, nervoso e hormonal, proporciona estabilidade emocional e clareza de pensamento. Torna o praticante mais objectivo, centrado e, por último, mais feliz e em paz.

 

Acrescente-se que todo este corpo teórico parte do conhecimento védico que é a ciência dos mantras (controlo da mente através de uma estrutura mística encerrada dentro da estrutura do som), dos sábios e yoguis da antiga Índia, transmitido de mestre a discípulo, ao longo do tempo, designado a mostrar o minucioso, extrínseco funcionamento do universo, e da nossa própria consciência; orientando-nos em última instância para o estado de auto-realização e consequente liberação do ciclo de nascimentos e mortes.

 

Os seis sistemas que aceitam a autoridade dos vedas e funcionam para sistematizar o significado dos seus ensinamentos incluem nyaya (lógica), vaisheshika (categorização), samkya (enumeração dos elementos), purva mimamsa (ritualística) e uttara mimamsa (metafísica) e o yoga, que penetra e invade os outros sistemas e representa o seu lado prático, incluindo o princípio de desenvolver o estado da mente meditativa, que é a base de todo o conhecimento védico.

No entanto, os vedas não oferecem exclusivamente disciplina espiritual, também fazem referências à saúde, ciência, arte e cultura, existindo quatro Upavedas, ou Vedas complementares, ayurveda (saúde e bem estar), gandharva veda (música), sthapatya veda (ciência da correcta ocupação dos espaços) e dhanur veda (artes marciais).

 

 

Resumo elaborado a partir de textos de Pedro Kupfer disponíveis no site http://www.yoga.pro.br e do manual de formação de Instrutores de Yoga da AETO

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