top of page

Inspirações sobre gestação maternidade e educação conscientes

Artigos livros videos Reflexões

O fenómeno da “fusão emocional” mãe-bebê in Mulheres visíveis, mãs invisíveis de Laura Gutman


"Seria maravilhoso se a maternidade se limitasse a colocar em nossos braços o bebê rosado e feliz que sorri nas páginas das revistas e se nossa vida seguisse seu curso de uma maneira ainda mais plena do que antes. Porém, a realidade invisível de cada uma de nós costuma ser diferente. Não dispomos de palavras para nomear o que acontece conosco quando estamos com uma criança no colo. É uma mistura de angústia, alegria, perda de identidade, vontade de desaparecer, cansaço, orgulho, sonho e excitação.

 

Além disso, há algo que não nos contaram ou que não estávamos dispostas a ouvir, fascinadas pelo glamour da gravidez ou bombardeadas por milhares de conselhos recebidos para fazer as coisas direito: ser mãe é se deixar inundar pela loucura de compartilhar um mesmo território emocional com a criança. Porque, embora o bebê já tenha nascido e acreditemos que se transformou em “outro”, os campos emocionais têm mais níveis. Estou me referindo ao fenômeno da “fusão emocional”. Não há fronteiras entre “o campo emocional da mãe” e “o campo emocional da criança”. São como duas gotas d’água no oceano. Não é possível identificá-las de maneira separada. Perceber a existência da “ fusão emocional” sóserá possível se olharmos mais além do paraíso terrestre, palpável e visível.

 

Concretamente, as mães sentem — “como se fossem próprias” — todas as sensações do bebê. Por exemplo, se incomodam com os ruídos ou com as pessoas que falam em voz alta. Os seios se enchem de leite segundos antes de a criança despertar. Sentem angústias repentinas. Precisam se enclausurar urgentemente em casa. O bebê, por sua vez, também vive as experiências da mãe “como se fossem próprias”. Não distinguem entre as que são conscientes e as que não o são, entre as que pertencem ao passado, ao presente e ao futuro. Dentro da “fusão emocional”, tudo o que um e outro sentem é vivido por ambos.

 

Agora vem a parte mais difícil: o bebê, na qualidade de “ser sutil”, expressa de uma maneira especial toda a matéria emocional que a mãe não registra, que “relegou à sombra”. Ou seja, expressa exatamente aquilo que ela se esforçou tanto para esquecer: situações confusas vividas na infância, abandonos emocionais, perdas afetivas ou dores inomináveis. Passamos anos tentando “superá-los” para nos tornar as mulheres maduras e independentes que somos hoje.

 

No entanto, a criança nos sugere que voltemos a visitar, com honestidade, esses lugares feridos do coração. Enquanto nosso coração interior estiver chorando, a criança também vai chorar; mesmo que sejamos muito simpáticas e encantadoras, enquanto a raiva e a irritação estiverem em ação, a criança vai gritar e se debater tomada pela fúria; enquanto a falta de amor da nossa infância continuar instalada, a criança não irá conseguir se acalmar.

 

Por isso, precisamos entender que quando a criança estiver irritada mesmo estando no colo, ninada e higienizada, é porque chegou a hora de nos perguntarmos: “O que está acontecendo comigo?” em vez de “O que está acontecendo com a criança?” A “fusão emocional” se transforma, assim, em um caminho de autodescoberta, pois permite que nos façamos perguntas íntimas, verdadeiras, repletas de significado, em uma dimensão espiritual talvez nunca antes experimentada."

 

 

VOLTAR

© 2023 por FOTOGRAFIA JOÃO MACEDO. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Twitter Clean
  • Flickr Clean
bottom of page